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Dor de cabeça ou enxaqueca? Quais as diferenças e como tratar

27 Nov 2023 - 08:40

Dor de cabeça ou enxaqueca? Quais as diferenças e como tratar

Ter uma dor de cabeça pode ser diferente de pessoa para pessoa, é algo que varia na intensidade, na região do crânio em que se manifesta e até na sensação que provoca. Entre as cefaleias – termo médico que se aplica a todas as dores de cabeça – há um tipo que se destaca: as enxaquecas.

A enxaqueca é descrita como uma dor de cabeça pulsátil, com intensidade moderada a elevada de duração prolongada. Mas, para quem sofre desta condição, há um outro adjetivo que não pode ficar fora da caracterização: incapacitante.

Os valores de prevalência da enxaqueca variam entre estudos científicos, mas uma revisão sistemática, publicada em 2021, refere que esta condição afeta entre 15% e 20% da população – sendo que os casos registados em mulheres é o triplo dos casos diagnosticados nos homens.

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Qual é a diferença entre uma enxaqueca e as restantes dores de cabeça? Em declarações ao Viral, dois neurologistas respondem à questão e explicam as características dos diferentes tipos de cefaleias. Além disso, apontam os principais sintomas a ter em atenção e quais os tratamentos atualmente disponíveis para esta condição.

O que caracteriza uma enxaqueca?

A enxaqueca é caracterizada por “uma dor de cabeça com duração superior a quatro horas e que pode chegar a durar até três dias [72 horas]”, explica ao Viral Carlos Andrade, neurologista dedicado ao tratamento das cefaleias no Centro Hospitalar Universitário de Santo António.

Paula Salgado, neurologista responsável pelas consultas de cefaleias no Hospital Pedro Hispano, lembra que esta dor pode prolongar-se e “passar de um dia para o outro”. 

“É frequente os pacientes deitarem-se com dor de cabeça e acordarem ainda com dor, apesar de terem tido uma boa noite de sono”, sustenta.

Os dois especialistas descrevem esta dor como “pulsátil, latejante, como se fosse um coração a bater”, e explicam que a enxaqueca surge acompanhada por náuseas, vómitos, fotofobia e fonofobia (sensibilidade à luz e ao som), podendo também ocorrer osmofobia (sensibilidade aos cheiros).

A dor associada à enxaqueca “afeta o lado direito ou o esquerdo, podendo também ocorrer na zona frontal, perto dos olhos”, adianta Paula Salgado. A especialista destaca que esta “é uma doença crónica”, ou seja, “quem a tem vai ter para ao longo da vida”. 

“Não tem de ter uma incidência diária, mas pode ser cíclica – ocorrendo com um intervalo de uma ou duas semanas”, acrescenta a neurologista.

A enxaqueca não tem uma causa conhecida, mas os médicos sabem que há vários fatores que podem espoletar situações de crise, nomeadamente as alterações do horário de sono (por exemplo em trabalhos por turnos), o stress, a ansiedade ou a depressão

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Também as hormonas têm um papel determinante na enxaqueca, principalmente nas mulheres.

“Os homens também podem ter enxaqueca, mas é muito mais frequente nas mulheres. Pode estar relacionado com a questão hormonal: as mulheres podem ter mais crises de enxaqueca antes de ovular e deixam de ter quando chegam à menopausa”, explica Paula Salgado.

Com o avançar da medicina, sabe-se também que esta condição tem “alterações genéticas subjacentes” – uma vez que é “frequente encontrar pessoas com enxaqueca na mesma família” –, embora ainda não tenha sido possível identificar quais as alterações em causa.

Um artigo publicado na revista J Headache Pain, em 2023, sobre o caráter hereditário da enxaqueca sublinha que esta condição resulta de uma disfunção cerebral complexa que resulta da interação entre os fatores genéticos e ambientais

Avança ainda que são conhecidas mais de 180 variantes genéticas que podem estar associadas a anormalidades moleculares que aumentam a probabilidade de desenvolver enxaquecas.

Qual a diferença entre a enxaqueca e as outras dores de cabeça?

As principais características da enxaqueca são, também, as principais diferenças face aos restantes tipos de cefaleias. Para fazer a comparação, focamo-nos no tipo de dor de cabeça mais comum: a cefaleia de tensão.

“A cefaleia de tensão é uma sensação de peso ou pressão no crânio. Não existem náuseas, nem vómitos, mas pode haver alguma sensibilidade ao som”, explica Paula Salgado, lembrando que estas dores de cabeça podem ser combatidas com medicamentos analgésicos de acesso livre nas farmácias – como o paracetamol.

Carlos Andrade destaca que a grande diferença entre a enxaqueca e a cefaleia de tensão passa pelo impacto e pelos estímulos: “Se a dor de cabeça tiver um impacto muito grande no dia a dia e se os estímulos incomodarem muito, quase de certeza que é uma enxaqueca.”

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A cefaleia de tensão está, geralmente, associada a situações de ansiedade, stress, depressão ou má higiene do sono – circunstâncias que podem também estar na origem de uma crise de enxaquecas.

Contudo, a cefaleia de tensão é “frequente surgir mais ao fim do dia, quando já cumprimos uma série de atividades e estamos mais cansados”, acrescenta Paula Salgado.

Além das cefaleias de tensão, há ainda a cefaleia trigémino-autonómica, uma condição relativamente rara que se caracteriza por uma “dor excruciante, unilateral e de duração variável que não ultrapassa as ultrapassa as três horas”, explicam os dois especialistas. 

Este tipo de cefaleia está ainda associado à ocorrência de lacrimejo e vermelhidão do olho (apenas do lado da dor), assim como congestionamento nasal e rinorreia.

Existe ainda um outro grupo de cefaleias – as secundárias – que ocorrem devido à existência de outras patologias, como, por exemplo, um tumor, um aneurisma ou um acidente vascular cerebral.

Quais os tratamentos para a enxaquecas?

A enxaqueca é uma doença crónica, mas tem tratamento. “Há muitos anos, as pessoas que tinham enxaqueca tinham de se resignar a sofrer com a enxaqueca. Mas houve uma mudança de paradigma e agora há muitas opções de tratamento e com grande eficácia”, afirma Paula Salgado.

O tratamento da enxaqueca tem duas vertentes: uma para a fase aguda ou de crise, onde os fármacos atuam “para abortar a crise”, explica Carlos Andrade; outra como forma de prevenção e para evitar que os episódios se repitam muitas vezes no mesmo mês.

“Os medicamentos preventivos são prescritos em três opções: quando o paciente começa a ter mais de três episódios de enxaquecas por mês, quando as crises já não resolvem com tratamento de fase aguda ou quando existe alguma contraindicação para o tratamento da fase aguda”, prossegue o neurologista.

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Carlos Andrade aconselha os pacientes a seguirem uma rotina definida para evitar situações de crise: “Dormir as horas certas, não ter jejuns prolongados, evitar o stress e a ansiedade, estar bem hidratado. É importante manter uma rotina num doente com enxaqueca.”

Numa primeira abordagem, as enxaquecas são tratadas nos cuidados primários, ou seja, nos centros de saúde. Caso seja necessário, o médico de família referencia o paciente para uma consulta de neurologia que “valida o diagnóstico e sobe na pirâmide de opções terapêuticas”, acrescenta Paula Salgado.

Em resumo, as enxaquecas diferem das restantes cefaleias pela intensidade, duração e pelos sintomas associados – nomeadamente as náuseas, os vómitos e a sensibilidade à luz e ao som. Ter uma enxaqueca pode ser uma situação incapacitante, deixando o paciente durante várias horas sem conseguir realizar tarefas simples do seu dia a dia.

Categorias:

Neurologia

27 Nov 2023 - 08:40

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